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Estudo — Muito além da Economia Verde (Abramovay, 2012)

Marcos de Benedicto (Bene)
11 min readJan 13, 2024

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Friedrich von Hayek, ganhador do Prêmio Nobel de Economia, criou as bases da economia de mercado. Ele argumentava que as decisões individuais, baseadas principalmente nos preços, garantiriam a melhor alocação de recursos na economia. Abramovay resume o pensamento de Hayek, explicando que a coordenação e a cooperação humanas não resultam de ações diretas, mas sim de um sistema não controlado que transmite informações a todos através do mercado e dos preços.

Abramovay destaca a importância de incorporar valores ambientais e éticos nos mercados, mostrando que essas estruturas sociais podem e devem fazê-lo. Ele contrasta as decisões individuais como forma de organizar os mercados não com o planejamento, mas com a cooperação facilitada por novas estruturas de comunicação. O livro levanta questões cruciais sobre a relação entre indivíduo e coletivo, enfatizando a necessidade de mediar os interesses individuais e coletivos para garantir a sustentabilidade da atividade humana.

Um exemplo importante mostra que, cada vez mais, o mercado considera não apenas os preços, mas também outros valores. No livro, é mencionado um acordo entre organizações socioambientais e produtores de soja em 2006, onde a divulgação em tempo real de informações sobre o desmatamento pelo governo provocou constrangimento ético. Esse constrangimento foi uma motivação crucial para o acordo acontecer. Em resumo, a livre circulação de informações pode influenciar processos essenciais na economia, baseando-se em valores éticos.

Enfrentamos desafios ao lidar com a ideia de limite, já que ela nos obriga a fazer escolhas difíceis. Se quisermos manter nossos objetivos éticos de expandir constantemente as liberdades individuais, como sugerido por Amartya Sen, outro ganhador do Prêmio Nobel de Economia citado por Abramovay, precisamos de uma economia diferente.

Mas como seria essa economia? O autor deixa as respostas em destaque para que o leitor, com base nelas, possa formular suas próprias perguntas. Ele menciona: “Aumentar a eficiência e reduzir a desigualdade no uso dos recursos: esses são os objetivos estratégicos de uma nova economia que tenha a ética no centro das decisões e que se baseie em um processo social capaz de garantir a reprodução saudável das sociedades humanas”.

A ideia de diminuir as diferenças entre as pessoas não é apenas um desejo, é uma necessidade. O autor ajuda a escolher esse caminho ao apresentar dados que mostram uma grande desigualdade no uso de recursos naturais, como energia (inclusive de combustíveis fósseis) e minérios, entre outros materiais tirados da terra.

Para enfrentar os desafios de reduzir as emissões de carbono e diminuir as desigualdades, é crucial obter ganhos de eficiência nos processos produtivos, mas isso por si só não é suficiente. Precisamos nos reinventar e reconectar uns com os outros e com a natureza. Essa nova relação deve redefinir a felicidade e colocar o bem-estar coletivo em primeiro lugar.

Uma nova economia requer uma cultura diferente, que significa uma mudança nos valores herdados da sociedade de consumo excessivo, onde as pessoas não consideram o impacto no mundo, para um consumo justo e sustentável. Isso é apoiado por uma visão de mundo que vê a sustentabilidade como um modo de viver, um ideal para o presente e o futuro. Essa mudança cultural pode criar condições para uma relação mais saudável com o tempo, uma maior conexão com a natureza, superação do medo de se relacionar com ela e até mesmo um reencantamento com as pessoas e consigo mesmo.

Para estarmos abertos a essas mudanças, é crucial entender o significado do que nos motiva. O trabalho de Ricardo Abramovay nos auxilia nessa compreensão, sendo essa a força que impulsiona sua valiosa contribuição. (Marina Silva)

Fonte: Livro ABRAMOVAY, 2012. Muito Além da Economia Verde

1. Identificação

Vai dar tempo de fazer menos? O capitalismo pode considerar o mundo? Ricardo Abramovay organiza informações sobre o desenvolvimento sustentável, mostrando que, com a desigualdade e o crescimento atuais, a economia verde não pode se ajustar aos limites dos ecossistemas. “Muito Além da Economia Verde” sugere uma nova economia em que a cooperação social e a preservação dos serviços naturais se tornam cruciais.

2. Panorama

Abramovay, ao incorporar conceitos de economia e sustentabilidade em suas ideias, estende e enriquece a discussão iniciada por Friedrich von Hayek sobre a economia de mercado. Enquanto Hayek focava na eficiência da alocação de recursos através de decisões individuais baseadas em preços, Abramovay traz uma nova dimensão ao debate, argumentando a importância de integrar considerações ambientais e éticas nas dinâmicas de mercado.

Abramovay defende que os mercados, além de serem eficientes na distribuição de recursos, devem também ser responsáveis por promover a sustentabilidade. Isso implica reconhecer que as decisões econômicas não devem se basear apenas no ganho individual ou na eficiência de mercado, mas também devem levar em conta o impacto ambiental e social. Ele sugere que as estruturas de mercado tradicionais podem e devem evoluir para incorporar esses valores, realçando a necessidade de uma nova abordagem econômica que equilibre os interesses individuais com os coletivos e com a saúde do planeta.

Essa visão ampliada propõe uma redefinição do conceito de eficiência econômica, incluindo a sustentabilidade como um critério essencial. Abramovay argumenta que a cooperação, facilitada por novas formas de comunicação e interação social, pode ser um meio eficaz de organizar os mercados nesse sentido. Assim, ele destaca que a economia não deve ser vista isoladamente, mas como parte integrante de um sistema mais amplo que inclui aspectos sociais e ambientais, promovendo um desenvolvimento que seja sustentável a longo prazo.

3. Estrutura

Pobreza e Desigualdade

Para promover uma sociedade mais justa e sustentável, muitos argumentam que é necessário abordar ativamente a desigualdade, implementando políticas que visem reduzir disparidades econômicas e proporcionar igualdade de oportunidades para todos os membros da sociedade. Alguns caminhos que devem ser percorridos:

  1. Acesso Desigual a Recursos: A desigualdade muitas vezes resulta em um acesso desigual a recursos básicos, como alimentação, educação, saúde e oportunidades de emprego. Isso pode criar disparidades significativas entre diferentes grupos sociais, dificultando a construção de uma sociedade justa.
  2. Instabilidade Social: A desigualdade extrema pode levar a tensões sociais e conflitos, uma vez que as disparidades de oportunidades e recursos podem gerar ressentimento e descontentamento entre os membros da sociedade.
  3. Exclusão e Discriminação: A desigualdade pode levar à exclusão de certos grupos sociais, como minorias étnicas, mulheres e comunidades de baixa renda. Isso cria uma sociedade onde alguns têm mais oportunidades do que outros, minando a justiça social.
  4. Impacto Ambiental Desigual: A desigualdade muitas vezes resulta em um uso desigual dos recursos naturais, com grupos mais ricos consumindo mais e causando um impacto ambiental mais significativo. Isso pode comprometer a sustentabilidade ambiental no longo prazo.
  5. Falta de Participação Cidadã: A desigualdade econômica pode resultar em uma falta de participação significativa na tomada de decisões por parte dos grupos mais marginalizados, enfraquecendo a base democrática e minando a sustentabilidade do sistema político.
  6. Ciclo de Pobreza: A desigualdade pode perpetuar um ciclo de pobreza em que as oportunidades limitadas disponíveis para os grupos desfavorecidos dificultam a melhoria de suas condições de vida ao longo do tempo.

A Imaterialidade

A imaterialidade na questão economica significa interpretar como uma abordagem que reconhece a importância do conhecimento intangível na gestão sustentável dos recursos naturais. Nesse contexto, a imaterialidade poderia se referir à valorização de ativos intangíveis, como conhecimento científico, práticas tradicionais e informações, na formulação de estratégias econômicas que promovam a sustentabilidade e respeitem os limites ambientais. Isso pode envolver a aplicação de conhecimentos e práticas imateriais para garantir uma utilização equilibrada e sustentável dos recursos naturais.

Capitalismo e Consciência Ambiental

Embora a integração da consciência ambiental no capitalismo seja viável, alguns críticos argumentam que mudanças estruturais mais profundas podem ser necessárias para enfrentar completamente os desafios ambientais. Isso pode incluir questionar certos princípios fundamentais do capitalismo e explorar modelos econômicos alternativos que priorizem a sustentabilidade a longo prazo. Alguns exemplos do como se dá esta integração:

  1. Empresas Sustentáveis: Empresas podem adotar práticas sustentáveis, reduzindo seu impacto ambiental, utilizando recursos de forma mais eficiente e investindo em tecnologias verdes. Isso não apenas contribui para a preservação do meio ambiente, mas também pode gerar eficiências operacionais.
  2. Consumo Responsável: Os consumidores têm um papel fundamental ao optarem por produtos e serviços que sigam práticas sustentáveis. O capitalismo pode responder a essa demanda ao oferecer opções mais sustentáveis e transparentes no mercado.
  3. Incentivos e Regulações: Políticas públicas podem desempenhar um papel importante ao criar incentivos para práticas empresariais sustentáveis e implementar regulamentações que limitem atividades prejudiciais ao meio ambiente.
  4. Investimentos Socialmente Responsáveis: Investidores podem direcionar recursos para empresas e projetos que adotam práticas ambientalmente conscientes. Esse tipo de investimento pode influenciar diretamente o comportamento das empresas no mercado.
  5. Inovação Verde: O capitalismo pode ser impulsionado pela inovação, e a inovação verde envolve o desenvolvimento de novas tecnologias e soluções que sejam benéficas para o meio ambiente.
  6. Conscientização e Educação: A promoção da consciência ambiental por meio de campanhas educativas pode incentivar tanto empresas quanto consumidores a adotarem práticas mais sustentáveis.

Economia em Rede e Cooperação Social

A economia de rede e a cooperação social são interdependentes e muitas vezes se reforçam, criando oportunidades para colaboração, inovação e criação de valor em uma sociedade conectada. A ética é fundamental entre as relações humanas e a capacidade de escala da tecnologia, sendo fundamentada por: “Colocar a ética e o respeito aos ecossistemas no centro das decisões econômicas exige a ruptura com a maneira como os mercados são encarados pela esmagadora maioria da ciência econômica e, portanto, com essa rígida separação entre economia e sociedade, como se a primeira fosse a expressão exclusiva dos interesses privados e só a segunda exprimisse a esfera pública.”

A seguir alguns exemplos da união entre estes dois modelos:

  1. Plataformas Colaborativas: Muitas plataformas na economia de rede são construídas com base em princípios de cooperação social. Por exemplo, plataformas de crowdfunding, onde várias pessoas contribuem para apoiar projetos de outros membros.
  2. Compartilhamento de Conhecimento: A economia de rede facilita o compartilhamento rápido e amplo de conhecimento, promovendo a cooperação social em setores como pesquisa científica, inovação e educação.
  3. Efeitos de Rede na Cooperação: O crescimento de uma rede frequentemente cria oportunidades para maior cooperação social. À medida que mais pessoas participam, a capacidade de colaboração e compartilhamento de recursos aumenta.
  4. Desafios Potenciais: No entanto, é importante notar que a economia de rede também pode apresentar desafios à cooperação social, como a ampliação de desigualdades ou questões de privacidade.

4. Sobre o conteúdo

O livro que aborda a necessidade urgente de uma transformação nos paradigmas econômicos e sociais para enfrentar os desafios ambientais globais. O autor argumenta que a chamada “Economia Verde” não é suficiente por si só para resolver questões como a mudança climática e a degradação ambiental. Em vez disso, ele defende uma mudança mais profunda que envolve repensar a forma como a sociedade se relaciona com o meio ambiente e com os recursos naturais.

Abramovay discute a importância de adotar um modelo econômico que valorize mais do que apenas o crescimento e o lucro. Ele explora conceitos como economia circular, desenvolvimento sustentável e responsabilidade social, enfatizando a necessidade de uma economia que seja regenerativa e que respeite os limites do planeta.

O autor também aborda o papel das tecnologias e da inovação nesse processo, destacando como elas podem contribuir para uma transição para práticas mais sustentáveis. Ele examina o impacto das decisões empresariais e políticas no meio ambiente e na sociedade e argumenta que uma mudança significativa requer o envolvimento e a cooperação de todos os setores da sociedade.

Em suma, “Muito Além da Economia Verde” é uma reflexão profunda sobre a necessidade de um novo modelo econômico e social que coloque a sustentabilidade no centro das atenções, buscando harmonizar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental e a justiça social.

Em minha opinião, Abramovay apresenta um contexto de consciência ambiental e reflexões sobre uma sociedade mais justa, com um foco no coletivo acima do indivíduo. Este tema é de extrema relevância quando decidimos sobre a perpetuação da humanidade. A ética e o coletivo devem ser levados em consideração após a proteção da Natureza. Esta, que é a mãe de todos, tem capacidade de regeneração independente da boa vontade da humanidade, e respeitá-la acima dos interesses capitalistas é preservar a continuidade da humanidade. É necessário usar os recursos de forma consciente para que exista harmonia; o progresso é importante, desde que este venha acompanhado de consciência ambiental e social.

5. Análise crítica

Capítulo sobre Pobreza e Desigualdade

É verdade que o mundo converge em direção a padrões de consumo cada vez mais homogêneos, na expressão dele, planos. Ao mesmo tempo, ele próprio reconhece a profunda desigualdade no uso dos recursos com base nos quais se constrói essa convergência.

A convergência de consumo de recursos refere-se a um processo pelo qual diferentes sistemas, atividades ou práticas começam a utilizar recursos de maneira semelhante ou mais eficiente.

Mas como sugerir convergência se estamos sobrecarregando um modelo unico de consumo? Abaixo o quadro de crescimento populacional:

Diferente da convergência tecnológica onde são consumidos serviços de forma exponencial (infraestrutura mínima), quando falamos de comida, por exemplo, o foco é 100% um nos recursos ambientais não existe convergência e não existe exponencialidade.

Capítulo sobre Imaterialidade

Neste capítulo a abordagem vai desde a consciência pessoal e as necessidades de vida, até a participação e interação do indivíduo na sociedade, impactos de ações e reações nas movimentos sociais, religiosos, grupos próximos e famílias.

Em minha opnião, as interações usadas normalmente em frameworks de desenvolvimento social costumam não abordar todos esta ciclo da consciência a sociedade, normalmente são frações deste ciclo o que coloco o autor numa visão mais abrangente e real da transformação cultural necessária para o indivíduo.

Crescimento econômico não é uma fórmula universal para se chegar ao bem-estar. É fundamental avaliar seu significado não apenas por seus efeitos sociais gerais (ampliação da oferta de bens e serviços, criação de empregos, aumento da arrecadação tributária e estímulo à inovação) mas, sobretudo, por seus impactos diretos na vida das pessoas, das comunidades e dos territórios. (FONTE)

Capítulo sobre Capitalismo e Consciência Ambiental

O 1% mais rico da população mundial (77 milhões de pessoas) foi responsável por 16% das emissões globais de dióxido de carbono (CO2), um dos principais gases do efeito estufa, em 2019. Esse valor equivale a mesma quantidade emitida pelos 66% ou dois terços mais pobres da humanidade (5 bilhões de pessoas). — CNN Brasil

Em minha opnião a capacidade de emissão de CO² realmente é maior entre os mais ricos devido ao acumulo de ativos/atividades e não apenas pela falta de consciência ambiental, mas sim pela exploração do coletivo.

Capítulo sobre Economia em Rede e Cooperação Social

A maior dificuldade da transição para a qual este trabalho aponta — em que o crescimento não seja o eixo universal e a razão de ser da vida econômica, mas se submeta ao objetivo de ampliar as liberdades substantivas das pessoas e se limite às possibilidades dos ecossistemas — consiste em levá-la adiante no âmbito de uma economia descentralizada em que os atores individuais (empresas, consumidores) têm imenso poder de decisão. (FONTE)

Em minha opnião, a economia encarada como crescimento da qualidade de vida e manutenção dos recursos naturais deve ser posta a frentre da economia baseada em lucro, e não apenas porque precisamos preservar a natureza, mas porque a economia baseada em lucro consome recursos não sustentáveis e tende a colapsar no longo prazo e quebrar o modelo de produção e sustentação da sociedade.

7. O Autor

Ricardo Abramovay, professor e pesquisador, é um dos principais pensadores sobre desenvolvimento sustentável no Brasil. Este livro, inicialmente um relatório para a Fundación Avina, tornou-se um projeto maior apoiado pela Fundação, chegando ao PLANETA SUSTENTÁVEL. Lançado em junho de 2012 durante a Rio+20, aborda a Conferência Internacional para o Desenvolvimento Sustentável.

Fonte: Muito Além da Economia Verde por Ricardo Abramovay (Autor)

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