Marcos de Benedicto (Bene)
3 min readJan 11, 2025
https://cointelegraph.com/news/how-ai-is-changing-how-humans-interact-with-machines

IA — Too Far Effect

Quando a pandemia começou, fomos obrigados a nos adaptar rapidamente. De um dia para o outro, o trabalho, as amizades, a escola e até os encontros casuais migraram para o mundo virtual. As telas, que antes eram ferramentas corporativas, se tornaram protagonistas da nossa rotina. Foi o que conseguimos fazer com o que tínhamos – uma solução emergencial para um momento sem precedentes.

Agora, anos depois, percebemos que parte dessa adaptação ficou. E talvez até mais do que deveria. As interações humanas, antes carregadas de presença física e espontaneidade, hoje parecem programadas e intermediadas por tecnologia. Um café casual foi substituído por uma reunião online. Uma conversa no corredor virou uma mensagem rápida. O toque, o olhar e o sorriso ao vivo se tornaram mais raros do que gostaríamos.

Um exemplo disso é como os relacionamentos pessoais foram impactados. É comum ouvir histórias de meninas que namoram pelo WhatsApp – onde tudo acontece por mensagens, sem contato físico, sem encontros reais. O que era impensável há alguns anos agora é visto como parte do cotidiano. Mas será que isso é um sinal de modernidade ou uma adaptação exagerada? Afinal, um relacionamento construído exclusivamente por textos e emojis carece da profundidade que o contato humano proporciona.

Outro reflexo do pós-pandemia é a expectativa quase ilimitada sobre a inteligência artificial. Ferramentas como o ChatGPT e outras inovações tecnológicas ganharam um espaço imenso no imaginário coletivo. Elas são celebradas como soluções para problemas complexos, como produtividade, criatividade e até interação social. Mas essa dependência exagerada pode criar um problema maior: acreditar que a IA pode substituir o que é essencialmente humano.

Sim, a IA é uma ferramenta poderosa. Ela pode automatizar tarefas, organizar informações e até criar textos como este. Mas ela nunca será capaz de imitar a profundidade emocional de um abraço, a troca de olhares que fala mais do que mil palavras ou a intuição humana de entender um silêncio. A expectativa excessiva sobre a IA reflete, de certa forma, o vazio que as interações virtuais deixaram em nossas vidas.

Isso não quer dizer que a tecnologia seja a vilã. Pelo contrário, ela foi essencial durante um período em que o contato físico era inviável. Ferramentas como videoconferências e mensagens instantâneas possibilitaram que continuássemos conectados em um momento de crise. Mas, enquanto essas soluções foram perfeitas para o contexto da pandemia, talvez seja hora de refletirmos sobre os efeitos de mantê-las como padrão.

O ponto não é abandonar a tecnologia – afinal, ela veio para facilitar a vida. O desafio está em equilibrar sua utilidade com o resgate daquilo que faz as interações humanas tão únicas: o improviso de um bate-papo, o calor de um aperto de mão, a troca genuína de olhares.

A ideia de que podemos viver exclusivamente no digital sempre esteve presente, mas nunca foi tão testada quanto agora. Estamos nos adaptando a essa nova realidade, mas precisamos lembrar que nem tudo deve ser substituído. Um emoji nunca será um sorriso real. Uma mensagem instantânea não terá o mesmo impacto de uma conversa cara a cara.

A tecnologia e a IA são aliadas poderosas, mas não devem ocupar o espaço das relações humanas. Em vez de sermos definidos pela falta de interação presencial ou pela expectativa de que máquinas possam preencher essas lacunas, podemos encontrar formas de integrá-las ao nosso dia a dia, sem abrir mão daquilo que nos conecta de verdade.

Afinal, o progresso não precisa significar perder o que temos de mais humano – ele pode ser uma forma de enriquecê-lo. É hora de lembrar que a tecnologia existe para nos apoiar, não para nos substituir, e que o futuro mais promissor é aquele em que máquinas e pessoas coexistem, mas nunca às custas do que nos torna únicos.

É necessária uma visão mais profunda sobre o “Too Far Effect”, que geralmente implica uma ruptura entre intenção e recepção, e desta a importância do equilíbrio e da sensibilidade em ações e decisões que podem ter impactos futuros.

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